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AFETIVIDADE CONJUGAL - Reflexões Psicológicas

Atualizado: 17 de set. de 2023

Bases Psicológicas da Afetividade e Conjugalidade Professora: Drª Cleia Zanatta Clavery Guarnido Dua


Este magnífico texto, é de criação da Drª Cleia Zanatta Clavery Guarnido Duarte por ocasião de uma aula ministrada por ela à UCP em 2021 da qual tive a honrra de participar e compartilho aqui com todos vocês.



afetividade conjugal bases psicológicas para a convivência matrimonial
Afetividade conjugal


Afetividade: dimensão mental formadora de vínculos

- A afetividade constitui tema básico dos estudos da Psicologia e integra, juntamente com a dimensão cognitiva e conativa, o tripé que norteia o objeto de estudos desta ciência.

- A Psicologia tem como objeto de estudos a mente que os processos e conteúdos mentais que se expressam por meio do comportamento e a afetividade, constitui um desses processos ou dimensões.


- Por afetividade entende-se, segundo o Dicionário de Psicologia DORSCH, (Dorsch et al, 2001, p.19) “ o conjunto dos processos emocionais da vida dos sentimentos, da vida emotiva”. Assim é correto afirmar que a afetividade é uma dimensão mental que se apresenta através do comportamento na forma de emoções e sentimentos. - A afetividade responde por nosso ajustamento psicossocial, nosso humor, nossa saúde psíquica, nossa motivação, influencia a nossa capacidade de valorar, nossa capacidade de nos vincularmos e consequentemente nos engajarmos, e por boa parte de nossa identidade pessoal, sentimento de segurança, dentre outros.

- Emoções e sentimentos, são formas de afetos e os afetos podem ser considerados positivos e negativos. As emoções constituem afetos mais reativos, menos conscientes, às vezes, menos previsíveis, menos duradouros, mais impulsivos. Já os sentimentos são considerados afetos previsíveis, mais estáveis, conscientes, mais duradouros, menos impulsivos. Cotidianamente emoções e sentimentos direcionam a nossa vida afetiva.


- As emoções cumprem a função de sinais internos e nos auxiliam a mediar nossas necessidades e a apontar os comportamentos necessários para satisfazê-los, o que nem sempre corresponde à escolha mais criteriosa sob o ponto de vista lógico. No entanto têm o papel equilibrador ao nos indicar as necessidades psíquicas ou orgânicas a serem atendidas.


- O comportamento emocional, desde as primeiras trocas oriundas de relacionamentos interpessoais e com o ambiente, traz as marcas do grupo ao qual a pessoa pertence, o que vai regular, simultaneamente, as atitudes e as maneiras de sentir, imprimindo na pessoa uma marca, um modo de se comportar.


- Quanto aos sentimentos, apresentam-se mais vinculados aos contextos sociais, culturais, às normas e valores historicamente acumulados e assimilados pela pessoa. Encontram-se cristalizados nas significações do contexto ambiental e traduzam o afeto revestido de significados.


- A alegria, a vergonha, a ira, o entusiasmo, o temor, a indignação, o interesse, a valentia, são sentimentos que têm origem social e dependem das relações individuais e sociais,


- O vínculo entre emoções e sentimentos ocorre quando a humanização das emoções se manifesta no contexto qualitativo dos sentimentos que elas experimentam. A pessoa domina suas emoções, freia suas manifestações improcedentes, e valora através dos sentimentos que expressam uma norma, uma lei, uma regra, um costume, enfim uma moralidade determinada. Assim, a natureza dos sentimentos é ontogenética.


- Afetos geram vínculos, positivos ou negativos e a construção de vínculos positivos está diretamente relacionada a presença dos valores como guias das condutas ou comportamentos que caracterizem afetos morais.


Intersubjetividade, interação social e relações familiares


- Os estudos da Psicologia Social e da Cognição Social iluminam esta temática, e a direcionam para as suas especificidades, como no caso das relações familiares.


- Os processos e conteúdos mentais, cognitivos e afetivos influenciam e são influenciados todo o tempo pelas relações interpessoais, direta ou indiretamente, e o conhecimento acerca destes mecanismos em muito favorece a compreensão de motivações, escolhas, tomadas de decisão, processos de ajustamento pessoal e interpessoal, coesão grupal, dentre outros.


- A intersubjetividade marca, decisivamente, os processos de interação social assim como as relações grupais específicas no caso, por exemplo, das famílias. As famílias são unidades revestidas de diversidades próprias de intersubjetividade de seus integrantes e consequentemente ricas de possibilidades integradoras, se baseadas na mútua ajuda, porém ricas de instabilidades e conflitos, se houver descuido nas vivências dos processos de interação social. Famílias estreitam as teias da afetividade, ou seja, transitam entre emoções e afetos e, portanto, são mais vulneráveis nas suas estruturas. Demandam, valores claros para servirem de guias e se autorregularem para viver.


- Para Rodrigues (2000), outro aspecto autorregulador dos afetos familiares é a proximidade na convivência, pois facilita o contato, o conhecimento mútuo, o que aumenta as interações interpessoais e consequentemente a rede de apoio mútuo, fortalecendo-a.


- O aumento das interações interpessoais aumenta a atração entre as pessoas que interagem pela facilitação propiciada pela proximidade física (conhecimentos que fazemos pela proximidade física). No entanto, a mesma proximidade pode também gerar hostilidade


-Ainda para Rodrigues (2000), alguns fatores podem favorecer as relações interpessoais e enriquecer relações intersubjetivas nos contextos grupais:


a)convivência

b)ausência de tensão

c)oportunidade de interação

d)oportunidade de maior conhecimento mútuo, resultando em maior capacidade de predição do comportamento

e) simples familiaridade decorrente de frequência de encontros

f) possibilidade de reformulação de preconceitos

g) identidade de valores e preferências


Conjugalidade, processo complexo de relação afetiva estável

(Texto extraído na íntegra do artigo de Carneiro e Diniz Neto)


- Segundo Carneiro e Diniz Neto (2010) “a formação da conjugalidade, na visão sistêmica, é um

processo complexo, envolvendo diversos níveis do relacionamento e contextos que resultam na definição psicossocial de uma relação afetiva estável”.


-Autores de estudos sobre família e casamento, como Berger e Kellner (1964), Féres-Carneiro (2008), Féres-Carneiro e Diniz Neto (2008) e Grandesso (2000), abordam a conjugalidade como um processo de construção de uma realidade comum.


- Cada parceiro, ao se engajar na relação a dois, experimenta uma reconstrução de sua realidade individual, criando referências comuns e uma identidade conjugal.


- Esta relação é construída a partir de trocas verbais e não verbais entre os parceiros que coordenam suas ações recíprocas no universo social de significado, comprometendo-se com a construção de uma história comum, na qual as mudanças na pauta de ação de um dos cônjuges afeta o outro.

-No imaginário social, evoca-se a ideia do casal como um par associado por vínculos afetivos e sexuais de base estável, com um forte compromisso de apoio recíproco, com o objetivo de formar uma nova família incluindo, se possível, filhos.


- A relação conjugal dá-se, portanto, dentro de um contexto sócio-histórico e também familiar no qual o indivíduo, ao se socializar, internaliza pautas de ações psicossociais complexas. Tais pautas dizem respeito tanto a aspectos do processo de socialização primária quanto a processos secundários.

-Assim, a relação conjugal tem início com a criação de um território comum, no qual começam a ser compartilhadas experiências que produzem pautas de interação social significativas para o casal, relativizadas pela experiência de construção psicossocial de cada indivíduo.


- O aspecto de formação da conjugalidade deve ser visto como contínuo e não meramente envolvendo as fases inicias de engajamento amoroso, pois são os padrões de relacionamento que mantêm a conjugalidade e sua qualidade, ao longo do tempo, permitindo que esta resista às diversas circunstâncias, às mudanças previsíveis e imprevisíveis do ciclo de vida (Féres-Carneiro, 2003; McGoldrick, 1989/1995; Mosmann, Wagner, & Féres-Carneiro, 2006).


-Por outro lado, a dissolução da conjugalidade é abordada, na perspectiva sistêmica, como um processo no qual os padrões de manutenção da relação são modificados, até o momento em que a relação não pode ser mais definida, pelos cônjuges, ou pelo menos por um deles, como uma relação conjugal.

-Assim, a ruptura conjugal pode ser catastrófica, no sentido de que o passar do estado no qual os indivíduos são cônjuges, para o estado no qual não mais se definem assim, é abrupto e descontínuo. Porém, esta mudança envolve um longo e doloroso processo que pode durar muitos anos

(Féres-Carneiro, 2003) .


Referências:

-Terezinha Féres-Carneiro e Orestes Diniz Neto. Revisão Crítica da Literatura Construção e dissolução da conjugalidade: padrões relacionais, Paidéia maio-ago. 2010, Vol. 20, No. 46, 269-278

-RODRIGUES, A. -Psicologia Social para Principiantes, Petrópolis: Vozes , 2000


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